[RANK D] Ruukasu

Dia 1
como um professor

O sol raiava na posição mais destacada do anil do céu, iluminando toda a aldeia. À mesa, o pequeno Uchiha e sua avó conversavam sobre qualquer depois que os pais do menino partiram para mais um afazer. Mudaram de vila, mas continuam sendo shinobis, só se salvava a velha Sasara que ficava a vontade vestindo seu quimono preto. Nem mesmo o neto escapava: estava tomando café da manhã com seu traje de missões — camisa preta de manga longa, bermuda branca e hitaiate.
　　Ela deu uma golada em seu chá quente.
　　Ele terminou seu copo de achocolatado gelado.
　　Ela olhou bem dentro dos olhos dele.
　　── Então, querido, o que está achando da vida como shinobi? ── ela questiona.
　　Ruukasu retribui o olhar, exibindo uma calmaria enorme.
　　── Parece que eles tem poucas missões para genins aqui, vovó. ── ele responde.
　　── É mesmo? ── ela sorriu ── Não se preocupe, logo algo irá aparecer...
　　Sasara disse com alguma convicção. Ruukasu suspirou como quem questiona um pouco a mais velha, acreditando que os dizeres da avó eram apenas para conformá-lo. O suspiro era carregado com uma certa descrença, mas ele logo destacou um sorriso amarelo em seus lábios, que se desfez rapidamente com o som de algumas batidas na porta.
　　── Quem será? É muito cedo ainda.
　　── Por que não atende? Pode ser pra você, querido...
　　A mais velha o olhava ainda com aquele sorriso; o mais novo arqueava a sobrancelha esquerda, suspeitando do soar convicto nas palavras da avó. Levantou-se sem pressa e caminhou até a porta. A abriu e deparou-se com um shinobi de colete verde musgo cobrindo suas vestes. Era alto, cabelo preto arrepiado e usava óculos escuros. O genin abriu um pouco mais a porta para que a velha pudesse olhar bem para o homem — afinal, ele próprio não esperava por visitas, tampouco de um ninja de patente superior.
　　O homem curvou-se em respeito ao ver a Uchiha.
　　── Com licença, Sasara-sama, ── ele reassumiu a postura ereta ── eu vim buscar o garoto.
　　── Me buscar?!
　　A velha riu, se divertindo com a situação.
　　── Eu disse que logo algo iria aparecer, não disse?
　　── Mas...
　　── Explique para ele, meu jovem.
　　O homem tombou com a cabeça, assentindo positivamente.
　　── Hoje seria dia de instrução sobre armamentos na academia ninja, mas o shinobi responsável adoeceu. Solicitamos que Uchiha Sasara-sama nos ajudasse, mas ela se recusou por conta da aposentadoria e indicou você, Uchiha Ruukasu. A instrução que você irá ministrar é sobre conteúdo à sua escolha, terá apenas que ministrar um dia de aula.
　　O tom de voz do homem era tão formal que parecia um robô falando. O pequeno captou a mensagem, porém. A avó havia tramado aquilo, por isso falava com tanta certeza que algo iria aparecer: assim ele supôs. Como todo bom shinobi, já estava pronto para qualquer tipo de acionamento, fez apenas calçar as sandálias que estavam próximas a entrada.
　　── Até mais tarde, vovó.
　　Ele fechou a porta e partiu.
　　Destino: academia ninja.

(...)

　　O cintilar dos corpos conduziu os dois para a sala de aula. Numa posição de destaque, no palanque que o colocava acima daqueles tantos estudantes, estava o pequeno Uchiha. Seus olhos faziam uma rápida varredura, analisando cada rosto ali. Daqueles trinta e poucos, havia uma boa quantidade de crianças que eram de sua classe e ainda não conseguiram graduar-se. Alguns — a maioria — mais velhos, outros deviam ter sua idade, a turma inteira o olhava sem entender bem o que ele fazia por ali. Contudo, recebia alguns olhares invejosos por conta da placa de metal amarrada em sua testa. Não que ele se incomodasse, apenas notava e ignorava.
　　Uma classe bem respeitosa perante superiores, porém, calou-se e assim ficou desde o momento da entrada dos dois.
　　── Classe, bom dia.
　　── Bom dia, Aoba-sensei! ── a resposta veio em uníssono.
　　── O professor de hoje, Inoichi-san, não poderá comparecer. Portanto...
　　Sua mão esquerda tocou o ombro do menor.
　　── Este será o professor de vocês para o dia de hoje.
　　Aoba olhou para o Ruukasu.
　　── Apresente-se e boa sorte com eles. ── foi dito em um cochicho.
　　Assentiu com a cabeça, respondendo ao mais velho que deixou o local sem delongar-se muito. Agora, era somente ele e a classe. Seu olhar confrontava mais de três dezenas de olhares diferentes; uns contrariados, uns curiosos, uns desgostosos e ele, indiferente.
　　── Alguns me conhecem, outros não, mas sou Uchiha Ruukasu.
　　Sua voz ecoou com um tom bastante calmo, embora por dentro estivesse um pouco desconfortável. Dar aula nem de longe era o que imaginaria estar fazendo a essa hora. Foi pego de surpresa, de tal forma que não conseguia nem ao menos pensar em algum conteúdo para distrair os alunos. Aí que entrou sua genialidade: se o conteúdo original da aula era sobre armamentos, por que haveria ele de fazer diferente?
　　── Vamos dar início à aula.

(...)

　　Fim de tarde.
　　A porta de correr da casa se abre.
　　── Já chegou, querido?
　　A voz da avó era como uma carícia confortante após o desgaste, mas o leve tom de deboche não passou despercebido. O cheiro do chá de erva forte que a velha sempre toma tomava conta de toda a cozinha.
　　O menino bufou.
　　── Nunca mais faça isso, vovó.
　　── Eu nem sei do que você está falando...
　　Ele se sentou à mesa. Ela veio com duas xícaras e um sorriso.
　　── Então... como foi o seu dia?

450/600

MISSÃO:

• Concluído.

DIA 2
Ruukasu, o exterminador

── Isso está realmente certo?
　　O Uchiha estava de pé diante de um shinobi mais antigo, separados por um balcão de madeira. O pequeno segurava o pergaminho de uma missão em suas mãos e fazia sua pergunta ainda com os olhos fixados nos kanjis que detalhavam a tarefa.
　　── Sim, o proprietário não conseguiu conter as pragas com agrotóxicos. Estão por lá há dias e ele já considerou boa parte da plantação condenada. ── a voz alcançava os ouvidos do genin enquanto ele enrolava o pergaminho para guardá-lo ── Sua única tarefa vai ser dar fim aos insetos e por ser um Uchiha, acredito que a tarefa não vá ser difícil.
　　O objeto que antes estava nas mãos de Ruukasu agora estava em seu bolso. Mirava o outro com indiferença, mas entendeu bem sua tarefa e assentiu com um único tombar do pescoço antes de se retirar.
　　A vida como um shinobi de Konoha já não mais era tão monótona quanto costumava ser. Uma missão com um pouco mais de complexidade sucedida de maneira formidável elevou consideravelmente a projeção do garoto e seus serviços passaram a ser requisitados com maior frequência. Ele já não mais ia até as missões, elas iam até ele. Os chamados ficaram cada vez mais frequentes e ele tinha cada vez menos tempo de folga.
　　Então, isso é ser um shinobi...
　　Ele saiu do recinto deixando para trás uma cortina de fumo.

(...)

　　A viagem até a grande fazenda da vila não fora muito grande. Existem várias, mas esta em si é uma referência: trata-se da maior fornecedora de legumes para os mercados e restaurantes de todo o País do Fogo. Sua localização não fica muito além de alguns quilômetros ao sul de Konoha —
mais precisamente, algo em torno de dez quilômetros.
　　Seus passos apressados diminuíram a cadência quando pisaram no vasto campo de grama que cercava uma grande casa. Caminhou com pouca pressa até a porta e parou de frente para a mesma. Ergueu o braço direito e deu com os nós dos dedos da mão na madeira velha, chamando um senhor robusto de barba e cabelos bem grisalhos que pareceu feliz em ver Ruukasu. Ele abriu um enorme sorriso, mas o Uchiha não correspondeu ou tampouco se comoveu com a alegria: permaneceu indiferente, com seu olhar que parecia desprezar a todos estampado.
　　── Oh! Konoha atendeu rápido ao meu pedido! Vamos, entr...
　　── Onde está a plantação condenada? ── o genin interrompeu, indo direto ao assunto.
　　O tom de voz, a expressão, o olhar; aparentemente, o senhor não havia reparado bem no menino a sua frente. Olhar para ele era como estar de frente para rajada de vento frio. Embora não parecesse — e não fosse — mal intencionado, não parecia muito amistoso ou disposto a dialogar além do necessário, e o fazendeiro havia percebido.
　　── Eu o levarei lá, rapazinho.
　　Os dois caminharam casa adentro, o velho guiando o jovem para os fundos do terreno. Uma porta um pouco maior encontrava-se fechada com um cadeado que o proprietário não demorou a abrir. O grisalho parecia um pouco apreensivo em abrir aquela porta, mas ainda assim o fez. Vinte metros a frente, revelava-se a devastada plantação e explicava-se o semblante abatido do coroa.
　　── Não fui capaz de conter estes insetos e condenei minha horta.
　　── Entendo...
　　O Uchiha tomou a frente do velho e deixou a casa, postando-se diante da plantação. O verde estava quase que inteiramente tomando pela cor preta tamanha era a quantidade de insetos. O som dos mesmos era claramente audível — e um pouco perturbador. A criança não demonstrava incomodo algum, embora não estivesse se sentindo confortável diante daquilo.
　　── Faça o que for necessário.
　　Ele já sabia o que fazer.
　　As mãos de Ruukasu se uniram e seus dedos se entrelaçaram a desenhar selos; cobra, dragão, coelho e tigre. Encheu os pulmões de ar até que até mesmo suas bochechas inflassem. Seu chakra agia e mesclava-se a massa que fora sugada para dentro de seu corpo. Com o peito estufado, inclinou um pouco o tronco para trás e, em seguida para frente, soprando todo oxigênio comprimido, este que saia bastante diferente de como entrou.
　　── Katon: Ryuuka no Jutsu!
　　O brado nomeava a técnica que fazia uma rajada de fogo intensa sair pela boca do Uchiha. O calor era tanto que fazia algumas gotas de suor escorrerem pelo rosto do genin. Tudo que era tocado pelo jutsu era incinerado, destruído, devastado. Plantas, insetos, o que fosse: nenhum deles iria resistir ao poder da técnica.
　　O odor de plantações queimadas que subia era forte e era tudo que Ruukasu deixava para trás. Ele virou-se logo depois de cumprir sua tarefa, sem dar maiores satisfações ou dialogar com o homem. Sabia o caminho até a porta da frente e seguiu com passos firmes, porém calmos.
　　── Garoto...
　　Cessaram-se os passos, mas ele continuou de costas.
　　── Sim?
　　── Poderia me dizer seu nome?
　　── Me chamo Uchiha Ruukasu.
　　── Uchiha Ruukasu... Muito obrigado, filho! ── disse o velho, num tom empolgado.
　　── Por nada...
　　E, então, partiu.

450/555

BOLSA DE EQUIPAMENTOS (Pequena):

USADOS & ATIVOS:

MISSÃO:

DIA 3
a colheita

Mais um pacato dia nascia na Vila da Folha Oculta. O sol tomava seu lugar de direito com a sua costumeira preguiça, os pássaros despertavam mais cedo que qualquer cidadão naquela aldeia e Ruukasu estava com mais uma tarefa a fazer: colher ervas. Para sentir-se verdadeiramente útil como ninja, se punha a fazer missões, embora fossem simples e nada desafiadoras.
　　Alguns instantes atrás, estava no balcão da central para receber o rolo de um pedido vindo do hospital para a coleta de ervas medicinais. Agora, encontra-se com um cesto simples preso em seu ombro esquerdo onde estoca cada erva que encontra nos grandes campos de plantações do clã Yamanaka — que não plantam somente flores.
　　O pedido: o máximo que ele conseguisse.
　　E lá estava o pequeno, desde antes mesmo de os pássaros despertarem para o início de seu coro, o Uchiha catava ervas.
　　Maldita insônia...
　　O suor escorria por seu rosto quase pálido conforme o sol ia o aquecendo ao passo em que brilhava mais e mais na posição destacada no anil. A solidão naquela tarefa tornava sua inexpressão bem menos destacada; não havia quem se incomodasse com o semblante. Os olhares do velho proprietário da fazenda em que se encontrava não o perturbavam, ele sequer ligava. Questionava a si mesmo apenas se ele não tinha nada mais a fazer. A cada olhar de relance que o moreno dava, podia ver o curioso velho com seus longos cabelos loiros já meio desbotados, sentado numa cadeira de balanço toda feita de madeira e com um belo acolchoado de coro, parecendo se divertir ao ver o menino trabalhar.
　　Simples e objetivo, ele cessou quando encheu o cesto.
　　Ruukasu caminhou na direção do velho, retirando o hitaiate de sua testa e limpando o suor embaixo dela enquanto andava. Seu olhar negro tão logo encontrou o azul dos olhos do dono daquele terreno. Seu semblante sereno parecia confrontar o semblante alegre do loiro.
　　Pouco importava.
　　── Eu já terminei por aqui, senhor Yamanaka. ── o tom de voz era brando, nada agressivo.
　　O homem continuou o encarando, sem dizer uma palavra por alguns minutos.
　　── Sabe, garotinho...
　　── Hm?
　　── Ver você trabalhando me fez lembrar de como eram bons os tempos da minha juventude. hoho
　　Ah, então era isso...
　　Ruukasu retribuiu com um raro sorriso simpático.
　　── Até porquê você me lembra muito uma velha amiga minha que não vejo a muito tempo...
　　Naquele exato momento, o sorriso se desfez e uma interrogação se desenhou no rosto do garoto. O homem parecia bastante idoso, não seria surpreendente se ele tivesse a idade de sua avó Sasara e não era impossível de eles se conhecerem, uma vez que a mesma viveu parte de sua infância na Folha.
　　Será que ele tá falando da velha?
　　Por alguns instantes, intrigou-se. Mas não tardou a passar.
　　── Bom... eu já vou indo. Muito obrigado e perdão pelo incomodo.
　　Uma formaç reverência e, então, rumou em direção ao hospital para a conclusão definitiva da tarefa.

450/600

BOLSA DE EQUIPAMENTOS (Pequena):

MISSÃO: