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Se era a irresponsabilidade quem tanto me incomodava, porque não partir de um ponto radicalmente mutável? Essa questão marretou minha cabeça inúmeras vezes enquanto meus olhos desfilavam pelo cartaz, papel aquele que diante de mim esteve pregado. Uma missão simples e básica; objetiva e perfeita. Quando menos pude esperar, o papel já tinha sido arrancado e já o encarava em minhas mãos. A academia era ao norte, da minha posição, menos de trezentos metros.

Bom dia — Cumprimentei sem ao menos ver quem estava por trás das portas, já querendo passar uma impressão educada antes de notarem as aparências. Uma senhora estava se afogando em papéis e pergaminhos, como se a falta daquele professor realmente a sufocasse. Com um suor frio que não deixava seu rosto, ela me retribuiu com um sorriso no rosto. Mesmo cansada e desesperada pela pressa de terminar sua organização de trabalho, a senhora se comprometeu a me guiar até a sala ao qual ficaria responsável. Antes de abrir a porta ela ressaltou que a turma era bem intensa, onde os alunos poderiam mexer com meu emocional rapidamente, como um teste. Notei a preocupação daquela mulher, mas concordei com a cabeça e logo adentrei — B-Bo... — Um estojo voou ao lado de meu rosto, quase me acertando em cheio. A sala estava um caos, afinal, ninguém responsável teria tido pulso para segura-los — Entendo — É como se a vida me cobrasse. As crianças eram como pequenos espelhos ao meu redor, onde eles refletiam minha forma infantil. Seria um teste? — Escutem! — Confrontei-os em alto e bom som, acompanhado por uma pancada na mesa de madeira — Serei o sensei de vocês por um dia, então preciso de toda atenção — Ao ignorar os livros na mesa, as crianças se calaram — Vocês são tão problemáticos, hãn? — Fintei-os de longe, ao lado da janela. A atenção das crianças estava voltada à mim, então o momento apropriado era esse — Ouçam, já ouviram uma história chamada: Ascensão de um herói? — Entre olhares perdidos, as crianças foram se alvoroçando para procurar algum tipo de informação, e isso durou longos minutos, até que uma delas ergueu o braço pra dizer: "Nunca ouvimos nada parecido ... Sensei?" — Meu nome é Aizawa — De fato, ainda não havia me apresentado — Bom, irei lhes contar e quero que prestem bastante atenção — Sentei na beira da janela, onde a luz poderia me focar o suficiente para agregar atenção — No passado, existiu um jovem que quebrava os padrões da normalidade. Uma criança que não admirava as lendas,
não tinha crença nas divindades e, principalmente, não se entregava a experiência e diversão infantil. A criança se trancou em um mundo só dela, perdendo a liberdade que os outros tinham, deixando assim, de beber do conhecimento que o mundo despejava sobre ele — As crianças estavam empolgadas, com olhos esbugalhados e mal podiam piscar — Os dias foram passando e essa criança foi sendo deixada para trás, mostrando não ser nada de especial perante as outras, no entanto, ela decidiu buscar sua redenção com os conhecimentos do seu mundo, um lugar totalmente oposto ao da realidade. Essa criança, que agora se tornara um rapaz, abdicou de seu egoísmo para se tornar solidário, fazendo assim, que a atual realidade possa entender os dois lados de uma moeda — Um sino tocou, aquele que mostrava o fim da aula. Me levantei vagarosamente da janela e reuni os livros da mesa, foi quando os alunos, todos, levantaram suas mãos. O mesmo que antes havia me indagado retrucou ao fim do conto: "Aizawa-Sensei, mas aonde está a ascensão do herói?"; com um sorriso estampado em uma feição exausta e com fadiga respondi — Ela está no fim da história, garoto, mas esse conto está apenas começando — Com passos curtos e um silêncio reflexivo, deixei a sala de aula.

Talvez aquelas crianças não tenham entendido o intuito da história, mas se em algum momento futuro elas se lembrarem, sei que poderão levar aquilo tudo como lição. Bom, cá me vejo novamente, diante de uma imensa parede de madeira rústica, enfeitada de panfletos com missões — Aniquila-los? — Absurdo. Como próprio criador de seres vivos é complicado demais ter de concluir essa missão, ao menos, da maneira que impuseram. É tão difícil para eles entender as reações de outros seres vivos, então só cabem um caminho a ser seguido. Acho que sou perfeitamente qualificado para resolver essa situação de vez, claro, sem que tenha risco de voltar tudo de novo.

A vila aparentava ser pacata, já que a conversa contínua entre os moradores tinha um baixo tom, sem precisar levantar a voz. Por essa fator também, pode-se notar que não é uma cidade de comercio, então se trata de um lugar de plantio para exportação. A vantagem de ser pequena é que a corrupção e hierarquia não dominaram esse lugar, então posso investigar sem receio de que mintam ou escondam algo por bem pessoal — Com licença, senhora ... — Decidi ser cordial — Vim resolver o problema que vocês vem tendo com os animais invasores. Poderia me mostrar aonde foram feitos os ataques? Prometo resolver isso rapidamente — De bom grato e feliz por ter recebido ajuda, a senhora se levantou da cadeira em que esteve sentada e me direcionou. Pelo caminho, pude notar o silêncio absoluto na floresta, onde nem mesmo os pássaros cantavam. O local de plantação estava intacto desde o último ataque, o que significava que o próximo ataque estava por vir — Obrigado pela ajuda,
senhora. Cuido de tudo daqui por diante — Com um sorriso estampado no rosto, aquela senhora me deixou sozinho, claramente, partindo do local. A plantação tinha um tamanho completamente simétrico, sendo assim, poderia lidar melhor com a situação na base da estratégia. Pegando na borda da plantação, decidi caminhar três passos a frente e me ajoelhar, criando uma distância considerável entre a plantação e meu caminhar. Nessa atual posição, pousei vagaroso meu dedo indicador no solo — Vão! Demarquem esse território! — Em baixo tom, porém com convicção, insetos saíam de minhas mangas e faziam fileiras no solo, deixando um rastro amarelado e de coloração clareada, aquela tão pouco visível. Os insetos formavam uma borda ao redor da plantação, como se estivessem marcando território mesmo — Agora é questão de aguardar — Sussurrei à mim mesmo, como se tivesse tido a solução.

O crepúsculo estava vindo. O céu laranjado de rachava no meio em nuvens passageiras, onde a noite estava por vir, como também, o próximo ataque. Antes que o breu tomasse conta do ambiente, as moitas em volta das árvores se mexeram sozinhas, mais do que o vento, menos do que pessoas — Aí estão ... — Vários animais de diferentes espécies saíam das moitas, tais quais se assemelhavam à coelhos, estavam indo em direção da plantação. Antes que pudessem chegar na plantação, algo os incomodou o suficiente para que evitasse a investida — Funcionou! — Indaguei com um sorriso monótono em meu rosto cansado. A travessa que os insetos haviam feito eram uma marca de odor, onde criavam um mal cheiro perturbador nos animais - muito incomodo. Suas narinas começariam com uma ardência ao qual os deixariam irritados, obrigando-os a fugir caso queiram o prazer da naturalidade — Percevejos são perturbadores — Comentei sobre o ocorrido, enquanto deixava o local aos poucos, sendo engolido pela escuridão da noite que vinha à cair. Mais um trabalho concluído.

Será que há o que fazer quando tão escuro? Não havia se quer uma pessoa de frente pro mural de missões, mas era uma saideira, já que mereço um descanso longo e duradouro. A missão de colher ervas me parece agradável, já que o hospital tem seu próprio plantio próximo, então estaria juntando o útil ao agradável. Por impulso do momento, me vi amaçando o papel da missão — D-Droga... — Apesar da simplicidade do objetivo, não era preciso jogar aquilo no lixo.

Com o papel amaçado em mãos e a mesma expressão plácida no rosto, me apresentei ao recepcionista, o qual me mostrou a planta do hospital e também seu mapeamento. Ele disse que necessitava de uma erva conhecida como Pétala Minguante, um ingrediente rico de vitalidade. Essa erva é usada para diminuir o cansaço e exaustão daqueles que bebem seu néctar. Essa erva somente é achada na lua minguante, por isso parte seu nome, entretanto, ela aflora em qualquer momento da noite ou madrugada, não existindo um intermédio ou base fixa de quando devemos colhe-la. É importante ressaltar que a erva tem uma duração curta de uso após ser colhida, podendo ser em vão caso demore ao ser transformada em medicamento — Ainda é cedo. Irei na estufa e trarei o máximo que puder, então, até mais! — Acenei enquanto dava as costas para o recepcionista.

Foram horas de espera, mas parecia que meu dia de sorte estava marcado. Se passaram cinco horas de observação e cuidado para colher uma dúzia de ervas, aquelas que poderiam se equivaler por um mês de medicamento seguro. Após os primeiros cuidados, me dirigi até a recepção para entregar as ervas, e assim, deixar o local.