OFF. Ruukasu vs Pearl

. prelúdio

"Nenhum mal te atingirá, nenhum flagelo chegará à tua tenda, porque aos seus anjos Ele mandou que te guardem em todos os teus caminhos." Salmos 91:10,11

O mundo dos mortais, o nosso mundo, é feito de caos e constante sofrimento. Isso é fato, basta pegar qualquer documento histórico para comprovar. Guerras sem sentido, a soberba de governantes em todos os períodos e não preciso nem falar da intolerância que nós humanos praticamos uns com os outros. As nações construídas sob o sangue e a carne de inocentes hoje vivem em uma aparente harmonia, mas é só dar uma pequena olha no que se passa atrás das cortinas que você é capaz de entender a dimensão dos infortúnios que estão prestes a acontecer. Uma terceira Grande Guerra, quem diria? É claro, não se preocupe em responder. Não precisa ser um gênio para ver as alianças se desgastando com o passar dos anos, as forças ocultas começando a mostrar suas garras aqui e ali. E nada parece ser feito para impedir que estas forças ganhem poder, não é mesmo?

Mas, meu querido, nem tudo está perdido. Alguns gostam de acreditar em divindades que guiam o nosso destino. Seres iluminados e onipotentes que se certificam de que nossas péssimas escolhas guiem a Terra ao colapso. Se eles estão fazendo esse trabalho direito ou não, é uma outra história. Porém o relato que vim até aqui te passar faz até mesmo um cético como eu duvidar de nossas certezas; tão, tão cegas pela arrogância humana em pensar que conhece o funcionamento do Universo.

Vez ou outra, a humanidade é presenteada com uma alma tão pura que é difícil aceitar que nós a merecemos. Pessoas tão bondosas que mesmo diante das piores adversidades são capazes de aliviar o ambiente pesado da guerra, fazer sacrifícios pelos seus semelhantes, e quem sabe até cumprir os objetivos de Deus a qualquer custo. E é nesse ponto onde quero chegar. Que Deus é esse? Seus objetivos realmente visam o melhor para a sociedade? Ou são apenas devaneios de uma mente megalomaníaca? Talvez você já saiba que não é esse o caso. Veja bem, não é que o líder em questão tivesse inteira culpa do que estava acontecendo. Ele foi levado a crer de que aquilo era de fato o melhor a se fazer. Mas a pureza estava lá, e com ela a inocência. E como é perigoso ser inocente nos tempos de hoje não é mesmo? Oportunistas estão sempre por aí, à espreita, prontos para passar por cima de pessoas assim.

Mas havia o nosso Anjo. Aquela pessoa pura que mencionei anteriormente. Um raio de luz em meio a tanta angústia que assolava a humanidade.

[...]

O céu chorava, mas isso não era uma surpresa. Em meio a tanto sangue e dor, não era de se estranhar. A guerra havia acabado, é claro. Nas grandes nações a paz reinava, tudo era lindo e a harmonia entre seus líderes era motivo de celebração. Mas não aqui. Ah, com certeza não nessa terra esquecida por Deus (será mesmo?). Toda a região ainda era muito instável, resquícios dos horrores da violência ainda insistiam em permanecer ali. Todos os dias mais e mais cadáveres; vidas ceifadas por combates entre forças desequilibradas ou pegas de surpresa por armadilhas esquecidas para trás quando os exércitos recuaram.

Mas isso não te impedia. Saia todos os dias do esconderijo, fosse para procurar por alimento ou ajudar alguém mais necessitado que você e os seus amigos. Os mantimentos eram terrivelmente escassos, naquele dia você só tinha um pão graças ao racionamento que Yahiko decidiu colocar em prática para controlar os suprimentos. Sua barriga doía, mas ainda sim você se recusava a comer. Mantinha aquele pão duro e mofado apertado junto ao corpo enquanto se protegia com um guarda-chuva ligeiramente esburacado. Sim, era perigoso. E você sabia.

Já estava retornando para o que chamava de “lar” quando algo lhe chamou a atenção. Talvez você não se lembre o que veio primeiro, o latido do cão ou o seu olhar se demorar em um amontoado marrom ali no chão. Ele não se mexia, mas logo você percebeu que era uma pessoa. E ao chegar mais perto viu que estava quase inconsciente, o corpo fraco e magro encolhido pelo frio da chuva enquanto o cachorro tentava encorajá-lo a levantar.

Você se abaixou, e sorriu. Naquela época você ainda sorria, garota. Esticou a ele o seu único alimento do dia sem nem ao menos hesitar.

— Ei! Coma!

O ruivo parecia não entender, afastando a enorme franja para que pudesse ver direito o que lhe era oferecido.

— Você tem certeza?

Não era preciso dizer mais nada, você apenas assentiu com a cabeça. E não imaginava quais seriam as consequências daquele ato.

[...]

Mas, qual é o propósito de um Anjo?

A maior parte dos fiéis logo bateria o pé para responder com toda a veemência “para adorar a Deus, é claro!”. E, bem. Não estão de todo errados. Mas como eu disse anteriormente, também estão entre nós para cumprir os propósitos Dele. Não seria diferente com a nossa - agora não tão inocente - enviada. Os anos foram duros, sem a menor dúvida. Após Yahiko, foram também solitários. Nagato jurou que cumpriria os objetivos do falecido amigo e por isso ela lhe garantiu a fidelidade eterna, mas ele não era exatamente uma companhia agradável. Sempre quieto, sempre tão quieto. Mas a Anja o conhecia como a palma de sua mão, sabia o significado de cada movimento mínimo. Cada faceta de sua personalidade. Estavam entrelaçados pelo fio do destino que se apertava ainda mais, não havia escapatória depois de certo ponto. Cruzou essa linha muito tempo atrás.

E para ela não haviam sacrifícios grandes demais para serem feitos; afinal, o grande sacrifício já havia sido feito quando seu amigo (e amado?) tomou a decisão de acabar com a própria vida. Konan permaneceu vida, mas a que custo? Jamais olhou para trás quando se uniu a Nagato, mas mesmo que o tivesse feito… Já era tarde demais. Parabéns, garota. Você passou na prova divina, você estava fadada a aquela vida para sempre. Ele agora era o seu Deus, e não havia nada que pudesse mudar isso.

O momento que me encarregaram de contar está intrinsecamente ligado a essa breve - porém chatíssima, reconheço - dissertação. Naquele dia, Deus a chamou para conversar. Haviam rumores, rumores um tanto preocupantes. Dois peões no jogo do destino haviam se confrontado, resultado a remoção de um deles do tabuleiro. Sendo completamente sincero, o peão em questão já estava na mira da organização a um tempo considerável. Este que já foi um aliado, mas acabou por fugir graças a sua estranha ambição.

E a Akatsuki não permitiria que alguém com tantas informações simplesmente se ver livre de suas amarras. O rei das cobras estava morto, subjugado por alguém que já vinha chamando atenção do Deus por certo tempo. Mas agora era necessária uma intervenção.

— Uchiha Sasuke.

Era irmão de um dos membros, e estava sedento por vingança.

— Ele se tornou perigoso, Konan. Precisamos lidar com isso, antes que Itachi tome conhecimento de tudo o que está acontecendo.

Ele tossiu, sua saúde piorava a cada dia.

— Precisamos dos membros focados na captura dos Jinchuurikis. Não quero ele ocupado lidando com o irmão.

Ah, os Jinchuurikis. De fato a captura das feras de cauda tem se intensificado graças à pressão “daquele homem”.

— Se é isso que deseja, Nagato, é isso que farei.

Já estava de saída, mas por um momento ela hesitou. Sem nem mesmo voltar a encará-lo de frente voltou a falar, deixando escapar um tom mais suave do que pretendia.

— Mas enquanto eu estiver fora… Por favor, não se esforce demais. Você está fraco, Nagato.

Não houve uma resposta, mas ela também não esperava por uma. Se conheciam bem demais para trocar palavras desnecessárias. Seu corpo parecia se dissolver, começando pelas pernas até que um vendaval pálido invadisse a saleta. Incontáveis papéis buscavam formas de sair dali e invadiam o céu noturno; aquele que sempre chora por essa nação, o lamento de incontáveis viúvas e órfãos. Os mesmos que se alegravam ao ver aqueles vultos brancos.

“Ei, olhe! É o Anjo!” Comentava uma criança para a outra. Ela era esperança, representava a salvação. A possibilidade de que, talvez, as coisas se ajeitassem.

Quem sabe, garoto. Quem sabe?

Por mais incrível que seja essa devoção dela por seu Deus, é um tanto preocupante as situações em que acabava por se meter graças a isso. Te adianto que não seria tão fácil como parece derrubar um jovem de dezesseis anos. Estamos lidando com um dos últimos herdeiros do outrora poderoso clã Uchiha, aquele que conseguiu ultrapassar os poderes de um dos Sannins lendários. Traiu a própria aldeia em sua ânsia por poder, seu desejo incontrolável por vingança.

Mas nada disso importava, não para o nosso Anjo é claro. Se viu em uma cidade desolada, vazia como o casulo de uma borboleta que já não precisa mais dele. Sora-ku foi castigada pelo tempo, já não havia porquê guardá-la uma vez que o clã da Folha se desvaneceu; e agora suas ruínas faziam o mesmo. Tempos atrás funcionava com um grande arsenal, mas ao perder sua função se juntou a coleção de lugares esquecidos por deus. Hoje abriga nada mais que poeira e fugitivos, que não permaneciam ali por tanto tempo assim para serem considerados moradores.

Konan mais uma vez se dividia, não há motivo em se lamentar por um lugar como este. Graças a sua incrível habilidade de transformar o próprio corpo em folhas de papel ela era capaz de cobrir uma área muito maior em um tempo infinitamente menor. Seus pequenos vigilantes percorriam as ruas vazias, como se pertencessem a paisagem distópica. Vasculhavam cada canto, lugares que a muito não presenciavam quaisquer resquícios de chakra.

Até que encontraram alguém.

Bem, não exatamente “alguém”. Um grupo, na realidade. O alvo tinha amigos, e a vontade de Deus tornou-se de fato trabalhosa. Seu Anjo começou a se recompor acima de um edifício próximo a área em que foram localizados, o semblante em branco como de costume.

Ela transmitia paz, mas também severidade.

— Uchiha Sasuke. Você teme a Deus?

Apesar da grande distância, o Anjo branco sabia que ele a escutaria. Não subestimaria o garoto, provavelmente já sabia de sua presença. Se fosse tolo assim jamais teria vencido o Imortal. Ela trajava suas asas, soberanas no céu claro. Os papéis se multiplicavam, saindo da parte de baixo de seu torso. O shinobi reconheceria aquele manto, já que o alvo dele também o utilizava. Saberia do que se trata, é claro que saberia.

Intimidante, serena. Como o Anjo que deveria ser. E fazia o possível para de fato cumprir seu papel.

A vontade de Deus será feita.

tá me dando problema cardíaco essa ansiedade CADÊ TEU POST OME

ABANDONAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAADA POR VOCÊ *fafá de belém toca ao fundo*