workspace

Não funciona tanto como um lar, e sim como um refúgio. De fora se mostra uma casa como qualquer outra da região, nada que chame a atenção além do fato de possuir algumas câmeras  aqui e ali; mas, quem poderia culpa-la por querer um pouco mais de segurança? Não era exatamente esse o propósitos das lentes, mas para um leigo seria o raciocínio mais provável a ser feito. De toda forma o interior se mostra ligeiramente mais abastado que o normal devido a dona da casa ser uma grande representante de um dos clãs mais prestigiados da aldeia. Mas nada que seja exatamente exorbitante, composta por poucos móveis e praticamente nenhum objeto de decoração. Uma sala, uma cozinha, um quarto. Exatamente o que se faz necessário para a sobrevivência básica.

Mas existe uma porta discreta próxima ao quarto, em um canto mais escondido da sala. Uma dezena de degraus o transportam até um incrível porão, cuja existência só foi possível depois de uma extensa briga com as construtoras da Folha já que era um pedido extremamente incomum. O lugar chega a ser maior que a casa em si, talvez pela falta de divisórias. Ali Satsuki abriga suas criações, seus entes mais queridos. Ao centro está a imensa máquina, o Beast, que funciona como o "coração" do lugar. Seus fios se estendem por todo o lugar tornando o ambiente um tanto sombrio e alguns diriam até perigoso. Há alguns depósitos onde são colocadas peças e ferramentas diversas para criação de mecanismos ou estudos mais aprofundados sobre novas tecnologias. Ali a garota passa grande parte de seus dias, seja presa ao super computador ou revirando máquinas antigas para criar novas armas.

Seus passos ecoavam ruidosamente, um barulho um tanto distinto. Os olhos corriam pela saleta escura e logo se flagrava pensando que realmente deveria colocar mais alguns móveis por ali para diminuir aquele vazio que provocava a distorção. Mas de todo modo foi só se afundar na poltrona que sua mente flutuou para longe dali, ainda estava um tanto intrigada com o que presenciara. Não seria fácil absorver tantas informações. Você não esperava que aquela pequena mensagem lhe traria tanta dor de cabeça, não é? Agora sem os óculos pressionando os dedos contra o espaço entre os olhos você se perguntava se fora de fato uma boa ideia. Certo, provavelmente a Areia teria sido devastada pela fera se nada fosse feito. Mas indiretamente foi responsável não só pelo desmembramento de seu líder, como também a captura daquela besta que sabe-se lá como reagiria ao selo.

Estariam seguros ali, ou o Guaxinim se enfureceria e quebraria sua prisão? Teria apenas transportado o problema para seu próprio lar.

Todo esse esforço poderia se mostrar em vão, e é até possível ver seu corpo tremer ao pensar nessa possibilidade. Arrastou os restos de seu corpo até o chuveiro onde passaria sabe-se lá quanto tempo. Foram afastada, com pouca possibilidade de descanso e ainda menos chances de questões higiênicas. Claro, a pausa na Areia foi de grande utilidade. Mas ainda assim não era a mesma coisa,
enquanto o Hokage repousava teve de lidar com dezenas de outras coisas para acelerar a saída. Ali a água parecia lavar grande parte daquele peso que sentia, as preocupações que lhe davam nós na garganta. Mas mesmo ali não era capaz de relaxar completamente; com a cabeça apoiada no vidro do box, deixava a água cair em suas costas enquanto rabiscava algumas palavras no vapor que grudava na superfície. Era tudo muito confuso, e havia algo sobre aquela fera que lhe dobrava o estômago toda vez que pensava nela. Sua expressão de ódio, sua massiva manifestação de chakra. Não parecia nada deste mundo. De toda forma, aquilo era exatamente o que você precisava. Um longo banho e algo para comer. Com o cabelo ainda molhado se dirigiu até o porão enquanto mastigava um pequeno pedaço de pão, que sabe-se lá a quantos dias esperava para ser ingerido.

Mas a necessidade de descer era maior que o buraco em seu estômago. Antes de acender as luzes pode ver os monitores de sua criação já iluminando a escuridão, uma vez que Beast jamais descansava. Monitorava a aldeia e mantinha os registros vinte e quatro horas por dia, seria um tanto imprudente desliga-lo mesmo para uma viagem tão importante. Passou os dedos pelos cabos como se o cumprimentasse, sorrindo brevemente ao sentar-se para conduzi-lo. Estava em casa, finalmente.

E deus sabe o quanto você apreciava estar ali.

Examinou a imensa quantidade de alertas e notificações, mas com dois toques no teclado as janelas eram minimizadas. Haviam outras prioridades. Plugou a câmera ao super computador para que pudesse rever pela centésima vez a batalha na Areia. Desta vez teria mais recursos para dar zooms e procurar coisas específicas em seus arquivos. Tinha de fato muito, muito trabalho. Arquivar todos os dados coletados, verificar o que aconteceu na Folha enquanto estava fora, e descobrir o que podia sobre a besta que causou tantos danos aos aliados. Só que você, Satsuki, tem um dom especial. Mais do que ninguém, era você que não só se dispunha a fazer tudo isso como tinha a capacidade de fazê-lo melhor e mais rápido. Completamente focada em suas tarefas, trabalhou por horas a fio com a toalha ainda enrolada no pescoço e o pedaço de pão esquecido na mesa ao lado.

Naquele momento você estava conectada não só com a realidade, mas com tudo aquilo que estava além dela.

Ou como você rotineiramente diz, seu verdadeiro "lar".

1000.900

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