[MD] Pyrate

Professor substituto

Já fazia uns meses que tinha chegado à vila. O meu período de adaptação foi curto, talvez por ter estado tanto tempo a viajar pelo mundo, apenas a tentar sobreviver; ainda era um pouco esquisito ter um chuveiro para tomar banho todos os dias e não ficar me lavando num rio uma vez por semana, assim como ter uma cama e não um galho de uma árvore ou o chão duro com um arbusto picante me cobrindo nas noites de inverno. Aquilo era um bom ambiente e acho que me conseguia habituar aquela vida depressa. Carregava na minha consciência a maior missão que alguém me podia dar, encontrar o meu sucessor, um que possa me servir como um dia servi o mestre Ichigen; se ele não pudesse, então o meu dever era matá-lo.

O meu período de adaptação não consistia apenas em me adaptar ao meu novo estilo de vida. Eu já era um ninja e já carregava a bandana da vila, era certo, mas devia ter os mesmos conhecimentos que todos os outros genins tinham. Então, nestes meses, a minha vida também se tinha resumido a aulas individuais na academia para que pudesse adquirir nada. Por certo, não aprendi nada, a kunoichi que me tentava passar esses ensinamentos era de tal forma formosa que me deixava nervoso só de olhar para ela. Por que era eu assim perante o sexo oposto? Quem me dera que o meu aspecto real e a minha forma instintiva de ser fosse tão extrovertida quanto os meus pensamentos.

Talvez fosse um teste ou algo assim; naquele dia, um dos chūnin responsáveis pela academia tinha adoecido e era preciso alguém para substitui-lo, mesmo que fosse um genin. Por coincidência, escolheram-me a mim. Como alguém como eu ficaria encarando aquelas crianças todas com o sonho de ser um grande ninja? Logo eu, com dezasseis anos ainda era um genin. Porém, não era de fugir a esses desafios. Então, como me foi pedido, apresentei-me na academia à hora que me disseram para dar a aula do dia aquelas crianças do primeiro ano da academia, crianças de oito anos. O que eu iria falar para elas? Elas ainda não tinham aprendido a usar nenhuma técnica ou sequer algo sobre selos de mão. Será que o melhor não seria contar-lhes uma história?

Estava sentado na secretária da sala, no lugar do professor. Os meus dedos ficavam batendo sucessivamente na mesa, desde o indicador ao mínimo, com o polegar funcionando como suporte para a mão. A outra mão, segurava a minha cabeça, exatamente no queixo, enquanto carregava também o meu ar aborrecido. Eu gostava de crianças, mas não naquela idade dos porquês ou, pelo menos, naquela idade em que questionavam tudo e todos; o meu maior aborrecimento era ainda não saber o que falar para elas, mas ponderava seriamente sobre falar-lhes dos selos básicos de mão, necessários para a realização de algumas técnicas, afinal isso era uma das temáticas ensinadas no primeiro ano do ensino da academia.

Um por um, os alunos iam entrando ordenadamente e cumprimentando com um simples bom dia e um sorriso da tipo alegria de criança. Depois de todos sentados, era o meu dever iniciar a aula. Foram cerca de vinte segundos com aqueles vinte e um alunos me encarando, esperando que eu começasse a aula e, acima de tudo, porque era eu a dar a aula e não o professor habitual. — Bom dia a todos. Antes de mais nada, quero dizer-vos que só estou aqui porque o vosso professor adoeceu e era necessário alguém para substitui-lo. Comecei assim a aula. As crianças começaram logo a trocar olhares e expressões de surpresa, com alguns sussurros sobre o estado do professor. Não sabia nada sobre isso, então o melhor era não falar sobre isso.

— Em segundo lugar, peço que não fiquem a gostar de mim, pois não tenciono voltar aqui para vos dar uma aula. Segui então, com palavras cruéis, mas que as crianças não tinham maturidade suficiente para perceberem. Levantei-me vagarosamente, com as duas mãos empurrando contra a mesa para me ajudar a levantar. Coloquei-as nos bolsos logo após e caminhei para a frente da secretária, onde me encostei, virado para os alunos. — Finalmente, começaremos a aula. Hoje falaremos de selos de mão básicos. Exibi então a temática da aula, começando por dizer que existiam doze selos de mão que eles iriam aprender no futuro e para que serviam os selos de mão.

Falei um pouco mais sobre eles, dizendo que existiam técnicas sem a necessidade da execução de selos, assim como havia ninjas habilidosos que conseguiam fazer todos os selos com apenas uma mão. Fiz uma demonstração de todos eles e acabei por ajudá-las também a realizá-las, criando um ambiente de aula prática na sala. Por sinal, as crianças pareciam ter gostado e ter-se divertido, pois quando surgiu o toque da campainha, elas mostraram o ar de surpresa por ter passado tão rápido. O vice-director da academia veio ter comigo após ter recebido o feedback das crianças, ficou bastante satisfeito com a minha prestação e acabou por pagar os meus serviços em dinheiro. O meu trabalho ali estava feito, retirei-me sem qualquer desejo de ficar lá.

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Resgatar o gato perdido

A vida na vila não estava fácil. As pessoas estavam frustradas pela ausência de um líder, pela ausência de uma palavra de determinação e pela ausência de uma palavra de confiança. Os ninjas pareciam aborrecidos, pois com a ausência desse posto, todo o trabalho cairia sobre eles e poucos eram aqueles que podiam ser em missões para fora da vila, pois a falta de um, podia fazer com que alguma parte do trabalho não fosse feita. A taxa de criminalidade estava a aumentar, assim como as entradas e saídas que não eram controladas. Tudo estavam um caos por ali e, o pior, já tinha chegado aos ouvidos das grandes nações, assim como aos ouvidos dos maiores ninjas criminosos e delinquentes. Mais um tempo e ali seria a concentração da maior criminalidade.

Alguém precisava de tomar mão daquilo e estabelecer a ordem naquilo; muitos tentavam, mas eram impedidos por amigos e colegas que também tinham esse desejo, mas que acabavam também por ser impedidos por outros amigos e colegas. Era o ciclo sem fim que estava a deixar os habitantes mais fiéis preocupados e aborrecidos com a situação. Em parte, não era problema para mim, um simples genin, mas acabava por tomar parte das dores da vila; quem me dera poder ajudá-las, como um genin conseguiria tomar controle de uma vila inteira assim? Não que fosse impossível, mas decerto não era para alguém com a minha personalidade quieta e silencioso, apesar de estar sempre quente por dentro.

Como era costume, andava a passear pela vila, observando todos os conflitos que existiam e tentando parar alguns. Como era de esperar, já se estavam a formar alguns partidos que desejavam o trono de Iwa. Não ligava para isso, se pudesse ficar afastado dessas burocracias melhor. De cigarro entre o dedo indicador e o dedo do meio, soprando o fumo ingerido, caminhava com passos lentos e calmos pela vila até uma senhora nobre ter vindo contra mim apressado e ter feito o meu cigarro cair. Por norma, eu ficaria irritado com aquilo, mas ela não me deu tempo, pois quando viu a minha bandana, percebeu que eu era um genin e recorreu à minha ajuda. Mostrou um saco com dinheiro, mais do que poderia imaginar e pedindo para que encontrasse o gato dela que estava perdido há um tempo.

Parecia algo fácil. Fiz-lhe algumas perguntas e ela respondeu-me que, normalmente, ele costumava perder-se nas construções da vila, pois ficava assustado com o barulho das máquinas. Por sinal, todas as construções estavam paradas, com a ausência do líder, não havia quem fizesse a gestão delas. Então, ele já devia estar preso em algumas delas há algum tempo, porque desde que os habitantes começaram a sentir essa falta de liderança que o construtores civis pararam os seus trabalhos. Isso tinha um ponto bom, não precisava de pedir ao responsável para desligar as máquinas temporariamente. Podia procurar então o gato Tora livremente. Existiam várias construções na vila, mas comecei pelas que ficavam nos arredores da casa da nobre.

Alguns edifícios estavam a ser construídos por lá, essencialmente habitações, como casas e apartamentos. A maioria já tinha a estrutura colocada na sua maioria, apenas faltando alguns retoques aqui e ali, a colocação das portas e das janelas; muitas máquinas estavam juntas naquele local, desde pequenas a grandes máquinas, andaimes também rodeavam todos os edifícios em construção, o que impedia alguns locais de saída e tornava a paisagem, à vista de um animal, mais assustadora, possivelmente. Entrei sem receio de ser assaltado ou espancado por alguns grupos de criminosos que se escondiam ali para realizar os seus tráficos, alguns até eram bem simpáticos e respondiam em tom de ironia quando lhes perguntava sobre o gato. Patéticos.

Procurei em todos os edifícios ainda em construção, vi todas as divisões e cantos. Isso facilitou a minha busca, porque, com o tempo e conforme ia concluindo a busca noutras habitações, avançava para uma nova, excluindo a possibilidade do gato estar na anterior, visto ter feito uma procura detalhada e restrita. Acabei por achar o gato escondido numa casa de banho quase completa, atrás do suporte para o lava mãos. Peguei nele, estava assustado, sujo e esfomeado; pelo menos, pela forma como mordia os meus dedos, devia pensar que eles eram comida. A dona explodiu de alegria quando o viu e até acrescentou algum dinheiro extra ao pagamento. Voltei a retirar-me dali, retirando mais um cigarro do maço que tinha no bolso e acendendo-o com o isqueiro que estava no outro.

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Ajudar Inoue a encontrar o seu colar

Caminhava mais uma vez pelas ruas observando a decadência da população; não parecíamos mais uma grande vila. A falta de governação estava a levar as pessoas à loucura e a fazer com que elas cometessem crimes que já mais imaginavam cometer. Seria por esta razão que o Ichigen tinha saído da vila há uns anos atrás? Não acreditava que no tempo dele a vila estivesse assim; contudo, eu ignorava esses factos que estavam bem na minha frente e procurava viver a minha vida, tentando defender a vila de outros e não de ela mesma, porque essa não era tarefa para mim. De cigarro aceso, caminhava pelas zonas mais quietas da vila, também as zonas mais temidas pelo excesso de delinquência que ali passava. Aquilo não me assustava, de forma alguma.

Soprava o fumo do cigarro segurado entre os dedos, tentando fazer alguns efeitos com a fumaça; ao longe avistava uma criança com uns oito anos a falar com um grupo de criminosos. Eles pareciam estar a troçar dela de alguma forma e ela parecia precisar de ajuda; aproximei-me sem hesitar. — O que se passa? Perguntei para todos, voltando a soprar o fumo do cigarro para o ar. Os delinquentes começaram a caminhar para fora dali mal me viram. Eles conheciam a minha fama, então não pareciam querer problemas. Abaixei-me perante a menina, já com o cigarro no fim. Apaguei no chão e mandei para fora o último sopro de fumo. — Então o que precisa? Perguntei, com delicadeza e gentileza, agachado à altura dela.

Ela, em tom de choro e com a voz aguda de criança, explicou-me tudo. Não tinha razão para aquelas preocupações, mas achava normal para uma criança. Ela tinha perdido o colar que a sua mãe lhe tinha dado e que já tinha pertencido a ela, à mãe dela e à mãe da mãe dela. Se ela realmente o tivesse perdido, a sua mãe iria ficar muito triste e chateada, então precisava de ajuda para encontrá-lo. Eu sempre me deixava levar pelas crianças, especialmente na idade dela; cinco anos. Caminhamos até junto da entrada da vila, onde ela dizia o ter perdido enquanto brincava por lá. Era um local perigoso para se brincar nos tempos que passavam, mas quem era eu para julgá-la? Com a idade ela, era um anjinho da morte.

Os arredores da vila eram lugares estranhos, não por quem os habitava, mas pela sua paisagem natural; em frente à vila, um enorme deserto rochoso com alguma, quase nenhuma, vegetação aqui e ali. Para trás da vila, existia uma pequena floresta com até um ribeiro de água fresca. Não dava exatamente para entender aquele país, mas também não tinha muito que pudesse ser entendido. Andava ali pela entrada a procurar o colar, fazendo o percurso que a menina tinha feito enquanto brincava. Escavamos um pouco na areia também que andava ali ao redor, não era muito, nem ia muito funda, mas podia esconder o seu colar. Não parecia estar entre a areia, certamente.

Continuamos por lá a ver até junto à muralha da vila. Nada. Vimos no meio e debaixo das pedras, entre elas também. O colar não parecia estar em lado nenhum, até que comecei a procurar num pequeno monte de pedras que se formava conforme o vento as levava. O colar estava lá; a jóia do colar camuflava-se junto com as outras pedras e quase impedia que fosse vista a olho humano. Ainda bem que me tinha lembrado de ir ali procurá-lo novamente. Ajudei-a a colocar o colar, aconselhando a usá-lo por dentro das suas roupas para que não fosse tão fácil para ele fugir. Ela pareceu ficar bastante feliz quando viu o colar de novo. Já era quase fim da manhã, o melhor seria deixá-la em casa em segurança, junto da sua mãe. Acendi um cigarro e depois dei-lhe a mão esquerda, enquanto a direita ajudava a minha boca a fumar. Até que estava a ser divertido ajudar esta criança.

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