[RP] Irmãos Bejide

Yera Bejide. 1600. 900.

O moletom níveo estava empapado por sangue seco nas mangas, mas isso não era um problema, pois estava coberto por um sobretudo de couro com um perfume forte e pertinaz que omitia os outros odores. Era um homem disforme e corpulento que chamava atenção pelos óculos excêntricos cobrindo os seus olhos e pelo crespo encaracolado descendo até os seus ombros. Uma toca cobria-o até a orelha, contendo o resto do penteado. Era normal que transitasse pela viela onde se alojavam as tabernas do subúrbio, vez ou outra pedia um cigarro de filtro vermelho e tragava alguns copos de uísque num canto, sem dizer nada para ninguém. O seu coturno enrijecido fazia soar no assoalho enquanto se arrastava e os próprios garçons brigavam entre si para não atender a figura.

Ele estava de costas para a entrada e quem transpasse a porta - além de escutar as enferrujadas dobradiças gritando - o veria. Robusto, dava pelo o menos dois do bêbado ao lado que levantara tropicando com a sua enorme barriga pendendo para o lado assim que viu o homem sentar-se tão próximo. As dançarinas chegavam, despiam-se e saíam sem nem receber um olhar dele, algumas questionavam sua sexualidade e outras se irritavam com o fato de serem ignoradas.

Marie era a mais bela das dançarinas, uma ruiva esbelta com volumes nos lugares certos e um sorriso capaz de matar os homens de desejo. Ela já tinha sido atendida por Yera ao solicitar um guarda-costas quando sua vida estava em risco, viu com seus próprios olhos ele assassinar seis homens e deixar apenas um borrão azul por onde passava. Na volta para sua casa, ele se mostrou gentil e sorridente durante o percurso. Era a única que o conhecia.

Hitoshi estava polindo o longo balcão com um pano, tentando desviar a sua atenção para não se concentrar no forasteiro que o seu país tinha aceitado de maneira tão simples. Era o filho mais velho do dono que comprara o lugar para lavar dinheiro. Apaixonara-se por Marie desde o dia em que havia pisado naquelas terras inóspitas, porém ela não se deitara com homem nenhum até os dias atuais, nem mesmo por dinheiro. O jovem garçom e herdeiro do estabelecimento sempre teve jeito com as mulheres e não soube aceitar a rejeição, contratando ninjas foragidos que foram mortos cruelmente por algum guerreiro da aldeia.

Ele virava mais um copo e esperava a chegada do seu irmão.

Yera Bejide. 1600. 900.

O brutamonte já estava habituado com o modo do seu irmão disparar palavras, então bebericou enquanto disfarçava o riso. Os olhares pesados sobre seus ombros se dissiparam e o gosto amargo na garganta pediu mais um trago do cigarro aceso entre seus dedos.

As costas negras da sua mão esquerda empurraram cuidadosamente a dose no copo de cristal até o seu irmão, oferecendo o conteúdo. - Ninhos de ratos parecem um ambiente apropriado para cobras criadas como nós... - Reiterava à ele, esboçando um sorriso agradável. Não poderia deixar a possibilidade de um comentário desse se esvair tão facilmente.

Esfregava seu maxilar enquanto concentrava-se em absorver o sentimento fraternal que parecia transbordar. - Preciso de umas boas moedas. - Deixou que a pausa lidasse com a absorção das informações. - Preciso de acompanhamento para algo grandioso. - Concluía.

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Bati o cigarro no cinzeiro de vidro sobre o balcão e sorrateiramente surrupiei um cigarro solto do caixa, lançando um olhar comemorativo para o meu irmão. Ofereci o produto roubado à ele apontando-lhe o filtro do tabaco, dedilhando o isqueiro sob minhas mangas para mostrar que já tinha fogo. Beberiquei do copo em sua posse, sentindo o gelo escorrer pelo líquido até os meus lábios. A maioria das pessoas lá tomavam uísque com outras bebidas que enfraqueciam e destruíam o sabor original, isso me irritava horrores.

Pousei o recipiente e franzi o cenho, aquele nome não me agradava, "kage". — Há alguns dias que não me atualizo sobre essa questão — fiz uma breve pausa, pensando que rumo isso iria tomar — quero realizar as tarefas de maior remuneração, assim poderei levantar o capital necessário para contratar mercenários — me deliciava com essa hipótese e fazia questão de imprimi-la pausadamente — e destruir a Aldeia da Nuvem. — Tive de segurar o meu tom de voz e garantir que o devaneio se mantivesse entre nós.

— Desconheço uma alma digna de me confrontar num combate físico, só que peco quando tratamos de ilusionistas e isso pode ser a minha ruína numa missão avançada. — Confessei, esperando sua resposta. —Não se esqueça do nosso objetivo, irmão.

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A marca negra ardia em minha pele, até então fria como mármore. As letras sobre o meu corpo descreviam um movimento contínuo como se estivessem vivas. Não precisava temer, afinal era o homem que salvara minha vida mais de cem vezes. Isso me lembrara de uma coisa.

— Faz tempo que não nos divertimos. — Dizia, lembrando-me das cicatrizes que acumulamos lutando entre nós. Éramos mais sensatos agora e não passaria de uma brincadeira. Levantar-me-ia e atacaria assim que ele estivesse aposto, sentindo os olhares assustados quando nossas auras se eriçaram. A força dos nossos chakras acentuados era o suficiente para desorientar um esquadrão de ninjas, quanto mais humanos comuns. Passei a mão numa garrafa de saquê e brandi contra a sua cabeça, descrevendo um arco que visava sua têmpora direita. Sem pensar, saltaria para trás, pousando e escorregando minha mão por uma cadeira de ferro que seria arremessada em sua direção.

— Espero que não tenhamos enferrujado, maninho! — Não abusava na velocidade dos movimentos, pois sabia que agilidade não era lá o seu forte. Do contrário, ele poderia vir com tudo. — Me mostre o quanto esse corpo de dançarina evoluiu! Lembrei-me de Marie na hora que lancei a provocação, ela mesma me olhou de soslaio de cima do palco.

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Ele se esquivou do movimento com proeza eu não esperaria outra coisa, o problema foi ter desperdiçado aquele uísque de dezesseis anos numa peleja casual. A cadeira sofreu ainda mais, sendo penetrada pela manifestação do poder da liberação de raio em sua mão direita, soando como mil pássaros enfurecidos. Já me aprontei para lançar o copo quando ele acometeu em minha direção, no entanto ele desapareceu assim que me muni de coragem para desperdiçar o restante da bebida.

O meu instinto de combate era uma parteira escandalosa parindo o perigo atrás? Meu cérebro estava explodindo dentro da minha touca. Um guerrilheiro experiente como eu sabia das vantagens de se estar nas costas do opositor, só que o meu irmão mais velho não era rápido a esse ponto - não até onde eu sabia. Se eu fosse um homem astuto, teria feito uma ligação entre suas palavras, a marca e a aparição repentina, mas eu não era.

Assim que ele desapareceu do meu ponto de vista, fui acometido por um senso de combate tão afiado que me abaixei e girei em meu próprio eixo, oferecendo minha perna esquerda estirada para derrubar ele numa rasteira. A direita me garantiria um impulso e enquanto saltasse para longe, chutaria uma mesa na direção do maldito. — Ainda sabemos agitar um bar, hein? — Mal pudia conter minha alegria em estar destruindo outro estabelecimento privado com meu maninho.

O dono do bar estava morrendo de ódio quase tanto quanto estava morrendo de medo e graças a isso ele continha suas palavras. O blues comia solto e adrenalina bombardeava o meu desempenho com melhoras significativas. Sem poder interromper o meu pulo, segurei no lustre e balancei, vendo-o acompanhar minha trajetória até eu estar com o tronco virado para o chão, a mão esquerda no lustre, os pés colados no teto e olhos fixos em Xangô, sete ou oito metros nos separavam.

— Eu sou o negão mais forte! — Aquilo deveria ter custado os olhos da cara, mas tinham outros e um não faria falta. Não hesitei em brandir a peça de decoração quando arranquei ela do teto e peguei sua corrente, balançando o cabo antes de me arremessar na direção do meu irmão. A minha intenção era interromper meu caminho ao tocar a parede atrás com os pés e me arremessar pro outro lado antes que pudesse ser alvejado por seus ataques. O belo lustre? Na cabeça dele, é claro. 

Citação :

Ki Nobori no Shugyō
Rank: E
Descrição: Escalada Practice Tree é um método de treinamento utilizado para ganhar mais habilidades com controle de chakra. Esta formação envolve focando uma quantia fixa de chakra para o fundo de seus pés, e usar isso para subir em uma árvore sem usar as mãos. Se o fluxo de chakra é muito fraco, o usuário perderá o seu pé na árvore e cair. Se ele for muito forte, o utilizador será empurrado para longe da árvore, fazendo com que a árvore para quebrar em torno do ponto de contacto e que o usuário vai cair.

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Ele nunca perdia a prática, eu era rápido com os punhos e ele com as palavras. Para quem teria aparecido atrás de mim sem que eu praticamente notasse, não estava tão ágil. Qual era a dele? Senti calor quando os músicos caíram num solo descomunal com os instrumentos de sopro cujo nome eu não sabia - mas estava gostando muito de ouvir - logo assim que a base de fundo parou por um instante. O rombo no teto estava alinhado com a lua e poderia se ver a noite estrelada se olhasse de baixo. "Gorila" e "anomalia da natureza" eram maneiras bonitinhas de ser elogiado. — Com tantas belas damas você vai usar essas belas palavras comigo? — Eu ria como um louco descontrolado, com os meus óculos refletindo os ocorridos daquela noite doentiamente divertida. 

O cenário parecia o de um filme de faroeste, empunhei outra cadeira e nocauteei os homens embriagados que me aporrinhavam num giro que terminaria com a cadeira voando contra o primogênito mais feio do mundo. Chutava uma fileira de seis mesas redondas, cada uma com suas quatro cadeiras. Estaria atento aos movimentos do meu irmão para acompanhar suas ações enquanto jogava mais móveis contra ele.

— Pra um gnomo preto de pernas curtas você luta até que bem, mas deve estar cansado e com fome! — Antes de terminar a frase, movi-me em velocidade máxima até o balcão e corri em sua direção por cima desse, pegando um baquete de incríveis sessenta centímetros que um cliente obeso havia pedido antes de sair correndo ao máximo que sua barriga permitia. Com o pão em mãos,
calmamente pegava os ingredientes e recheava o lanche: salame, hamburgueses, pimentões, cebola, molhos e tudo que tinha direito.

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Melissa, que mulher... — Você tinha jurado para mim que nunca mais ia falar disso! — Reclamava apontando meu indicador sujo de óleo de fritura enquanto coçava a nádega tatuada com a outra mão. Era divertido relembrar o passado. — Não era demolição-bejide-brothers? — Pelo o jeito nos lembrávamos de maneiras diferentes.

O dono do estabelecimento estava com o terno empoeirado e com as mãos juntava o que sobrara do caro lustre, ele gritava tanto que tive de colocar o homem para dormir arremessando uma batata gigantesca na sua cabeça. — Não se fazem donos de bares como antigamente. Lembra daquele velho jounnin aposentado? Éramos apenas chunin recém condecorados e tínhamos bebido pela primeira vez, você transou com a filha dele e eu quase fui queimado com uma técnica de libertação de fogo. — Coloquei um pano de prato sobre o ombro e o vinil para continuar girando, mas abaixei o volume e deixei o som ambiente. A banda parecia estar insatisfeita com o fato de que não seria paga e saíram resmungando.

Estávamos a sós e parecíamos literalmente em casa, tanto pela zona quanto por estarmos descontraídos - ao menos eu. Seis filés de búfalo assavam sobre a chapa, sabia que o meu irmão pediria por uma refeição quando seu estômago se desse conta do estrago que tínhamos feito ali. Dei uma passada em falso e quase amassei a minha caixa de cigarros, tinha sido derrubada no meio da confusão e estava entre os cacos de porcelana de um vaso qualquer, pelos mosaicos sobre o assoalho deveria ser um objeto importante da decoração, contrastava com as cores escuras e cortinas carmesim pelo salão. Estávamos num canto oposto ao palco de onde saíam as dançarinas e a banda ficava, lá perto tinham sofás de couro confortáveis que peguei para nos sentarmos, então servi-nos com mais uísque e sentei em um dos lados. — O que esteve fazendo nesse tempo afastado? — Puxei assunto.

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Era engraçado ver o meu irmão fumando. Não era típico dele, nem por isso hesitei em dar-lhe o cigarro. — Eles jamais iriam querer um garoto com o rosto da Nuvem usando o chapéu do Fogo. — Concluí o óbvio, mesmo assim me senti genial. Pensar doía muito. Também preparei um hambúrguer com maionese temperada, salsinha, orégano e um filé de búfalo. — Acho melhor partirmos para conseguir mais dinheiro. Rank S? — Perguntava e saía em seguida, esperando ser seguido.