Reunião era um termo bem amistoso para aquele martírio social. Eu odiava quando as pessoas se acumulavam todas em um mesmo lugar para conversar, socializar ou, no nosso caso, treinar.
Konoha estava em um estado de alerta desde que o filho do Hokage fora sequestrado, por isso, estávamos todos com as missões suspensas. Então, Kuramada-sensei, para desagrado do meu ser, teve a brilhante ideia de reunir os ex-alunos para um treinamento geral. Não podíamos ficar fora de forma, afinal.
O clima na área central de treinamento era de diversão, não de treino. Kuramada-sensei sempre fora didática, e suas lições, com frequência, mais tinham a ver com brincadeiras do que com treinamento militar. Me enfadava, é claro, que a habilidade mais importante para ela fosse o trabalho em equipe.
Eu tentava evitar contato social a todo custo, mas como a sentei tinha fixação pela cooperatividade, os treinamentos sempre envolviam alguma coisa em dupla ou em trio, me deixando em uma situação desagradável. Eu acabava por tentar me misturar entre os alunos, diluindo minha presença, evitando chamar muita atenção, o que seria difícil caso Uchiha Ruukasu, o tal filho sequestrado do Hokage, não fosse da minha turma.
Ele era considerado um gênio por ter se formado tão novo. Bom…eu também era, mas não costumava ficar no centro da sala com aquele sorriso brilhante, que fazia com que uma multidão se aglomerassem em volta dele em poucos segundos. No meu caso, eu preferia assistir todo aquele prelúdio de dramalhão mexicano de uma distância bem segura.
Para minha infelicidade, no capture a bandeira ninja, eu fiquei justamente na equipe do Uchiha, que como sempre sorriu encorajando o time a trabalhar duro.
Não precisávamos de tanto, na verdade o outro time nem teve chance. Sou um bom rastreador e minha arte ninja é especial, dando-me uma clara vantagem à maioria dos meus colegas. Ruukasu era um Uchiha talentoso e um usuário de Ninjutsu muito forte. Não demorou para aquele capture a bandeira virar um massacre, entre bolas de fogo e leões de tinta.
Ruukasu pareceu feliz com o resultado, brilhando com os aplausos da torcida, que havia se juntado para fazer alvoroço. Os outros participantes também ficaram empolgadas, mas com nós dois no time quase não tinham o que fazer. Os adversários não foram humilhados, Ruukasu não apoiaria aquele tipo de prática.
— Boa, Kotomine! — Foi o que ouvi ao final do jogo, acompanhado de um sorriso contagiante e o que Kronk chamaria de “Dedão Positivo do Papi”. Eu assenti em retorno e me afastei quando o ergueram, em uma ovacionação desnecessária.
Não é que eu não gostasse do cara, mas ele praticamente exalava o fedor de tragédia grega. Não bastasse ser o filho do homem que sobreviveu à grande tribulação do ataque mundial da Ragnarok, ainda tinha recebido o nome do pai. Não à toa, todos tinham grandes expectativas sobre o garoto, viviam comentando o quão impressionante ele era ao se formar aos oito anos na academia, tal como o pai; como era forte em Ninjutsu, tal como o pai; como era carismático, tal como pai, e a lista de “tal como o pai” vai se prolongando por toda a trajetória do garoto.
Infelizmente, isso também queria dizer que ele tinha que seguir todas as conquistas do pai, uma após a outra. No caso do garoto, todos pensavam em genialidade, como fora agraciado com dons, mas eu via o quanto se esforçava para corresponder aos altos padrões do Ruukasu pai. Sempre treinava após as aulas, sempre estudava após as aulas, sempre estava ajudando alguém após as aulas. Sinceramente, era um estilo de vida muito auto-destrutivo.
Não posso dizer que estou fora dos padrões dele, já que nos formamos com a mesma idade, dentro de uma classe onde a maioria esmagadora era formada por crianças de treze anos. Meu objetivo de vida, no entanto, não estava ligado a qualquer afiliação paternal ou fraternal. Eu estava livre desses grilhões há tempos. Na verdade, eu tinha certa pena dele.
O treinamento acabou comigo conseguindo evitar maiores aborrecimentos.
Os meninos seguiram para o Ichiraku, prontos para comer uma bela travessa do que eles denominavam o maior lamém do mundo. Eu devia ter ido com eles.
Ao invés disso, dirigi-me para minha casa, com meu semblante de velho resmungão.
Estava próximo da minha residência, uma cigarra cantava ao longe sua irritante melodia, quando minhas mãos foram aprisionadas com força pelos sequestradores. Um pano cobriu minhas vias respiratórias com aquele cheiro enjoativo. Eu pensei em gritar, em me soltar, mas antes que tivesse tal oportunidade, senti minhas forças se esvaindo.
Tudo ficou escuro.
***
Ainda hoje não sei o que me atingiu primeiro: A dor ou o fedor.
Meu corpo parecia ter sido exposto a um tratamento de tortura intensa, pois cada célula minha gritava com uma aguda dor. Começava a achar que tinham colocado uma pedra em cima do meu peito, tal era a dificuldade de respirar. Minha cabeça deve ter batido com força no chão frio, pois doía muito no lado esquerdo.
Meus sentidos demoraram a se despertar, mas eu já sentia o odor pútrido que pairava no ar.
Na época em que Shimbara passou por problemas, eu visitei um local com uma fedentina parecida com aquela. A prisão da resistência.
Era fedor de dejetos humanos, sobrepostos uns sobre os outros, numa bisarra pilha de miséria. Eu vomitaria se tivesse algo mais do que bile para regurgitar.
Estava com fome, mas ainda não havia me atrevido a abrir meus olhos, algo me dizia que eu odiaria o que estava para ver. Minha cabeça ainda não parecia ter parado de girar, mesmo sabendo estar deitado no chão, da maneira mais desconfortável possível.
Acho que depois disso eu desmaiei ainda umas duas vezes, antes de desperta por completo, a toxinas usada finalmente liberando meu corpo do torpor.
Ao redor ouvi gritos, lamúrias e gemidos, todos de desespero. Seja lá onde eu estava eu tinha a total certeza que não gostaria nenhum pouco quando finalmente abrisse os olhos. Ao meu lado alguém parecia estar gritando desesperadamente sacudindo alguma estrutura que pelo som devia ser de metal. Gritava algo parecido com formigas, ou gafanhotos, não entendia muito bem o que ela falava, eu, na verdade, suspeitava que nem mesmo ela soubesse. Sabia que era uma menina pelos gritos.
Tomei a coragem para abrir os olhos e quase os arranquei fora de tanto pânico, antes tivesse continuado com eles fechados. Estava sem meus óculos, então não conseguia enchergar nada depois de vinte metros.
Era um espaço mal iluminado de mais ou menos três metros quadrados, cercado por grades de metal grossas e frias. À minha frente, um corredor se estendia até onde minhas vistas se perdiam. À luz do sol entrava pela janela, também gradeada para impedir minha fulga.
Eu estava em uma cela. Eu havia sido sequestrado e posto em uma maldita cela, junto com outras crianças. Eu só deduzi isso pelo fato de meus companheiros também serem. A menina que estava à minha direita, estava uma garota loura, olhava-me como se vendo um monstro. A todo momento ela olha pra de um lado a outro, como se enchergasse fantasmas na escuridão. O menino a minha esquerda parecia ter aceitado sua condição, pois não chorava ou emitia som, só sabia que estava vivo, pois ocasionalmente mudava de posição.
O desespero começou a se instalar dentro do meu peito e eu solucei um gemido nada corajoso, mais parecia um cão deprimido. A situação estava desesperadora. Tentei sacudir as grades, mas, obviamente, não deu certo.
Resolvi deitar e me acalmar, mas as lágrimas já brotavam em meus olhos. Eu sabia que ninguém sentiria minha falta, que ninguém saberia de meu desaparecimento.
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Equipamentos
- Kunai (x5)
- Shuriken (x10)
- Senbon (x15)
- Makibishi (x5)
- Kemuridama (x2)
- Bomba de Luz (x1)
- Kibaku Fuuda (x5)
- Makimono (x3)
- Fios de Aço (20m)
— Nesse post eu só narrei o acontecido, no próximo eu começo a tentativa de fulga.